receitas e Conteudos

Podemos comer manteiga?

           time

Se pensarmos de uma forma evolutiva, as gorduras saturadas sempre fizeram parte da alimentação humana, durante toda a história da sua evolução. As gorduras saturadas estão presentes em alimentos naturais, como o óleo de coco, carnes, ovos, manteiga, laticínios e leite materno. Não faz muito sentido que os alimentos mais nutritivos do mundo sejam os que nos causam doenças. É de senso comum que os alimentos ingeridos pelo ser humano desde sempre e que sofreram menores transformações industriais são alimentos a privilegiar na nossa alimentação.

            A ideia de que as gorduras saturadas fazem mal à saúde e contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares foi desenvolvida nos anos 70, proveniente de uma teoria posteriormente disseminada por directrizes nutricionais norte-americanas, apoiando interesses industriais. Este mito propagado e sem base científica levou o mundo inteiro a mudar hábitos alimentares em detrimento da saúde global. Este escândalo está hoje a descoberto e agora sabe-se que o colesterol na dieta não tem relação com o colesterol no sangue na maioria das pessoas. Estes dados atuais, apoiados na ciência clara e credível, mostram-nos que a gordura saturada não é a causa da doença cardiovascular, como se pensou durante muito tempo. Inclusive, nas novas directivas norte-americanas de 2015 (da American Heart Association e do American College of Cardiology), a posição oficial é a de que não existe mais restrição ao colesterol na dieta (referência bibliográfica).

            Hoje, sabe-se que os óleos vegetais refinados e as gorduras trans (margarinas, manteigas light, etc.), estes sim, são prejudiciais para a saúde. Estas gorduras transformadas industrialmente são instáveis, oxidam-se facilmente. São pró-inflamatórias e a inflamação crónica é a principal responsável por várias doenças, incluindo as cardiovasculares e os cancros.

Por outro lado, a manteiga, que é uma gordura saturada «natural», é rica em vitaminas e minerais essenciais com muitos benefícios para a saúde. É rica em ácidos gordos de cadeias médias e curtas, mais rapidamente utilizados como fonte de energia (em vez de serem armazenados como gordura corporal). É constituída por ácidos gordos como o butírico, láurico e CLA (ácido linoleico conjugado), que têm várias propriedades benéficas anti-inflamatórias e ajudam a controlar o peso promovendo a saciedade.

            A ideia não é passar a abusar da gordura se esta for natural, mas sim procurar usar estas gorduras saturadas (mais ricas em ómega-3 e vitaminas) em substituição das gorduras insaturadas processadas, desinteressantes do ponto de vista nutricional e instáveis à oxidação e temperatura.

Bibliografia:

TAUBES, G., Good Calories, Bad Calories. Anchor Books, 2008

TAUBES, G., Why We Get Fat: And What to Do about It. Anchor Books, 2012

TEICHOLTZ, N. The Big Fat Surprise: Why Butter, Meat and Cheese Belong in a Healthy Diet. Simon & Schuster Paperbacks, 2014

SIRI-TARINO P.W., et al. Meta-analysis of prospective cohort studies evaluating the association of saturated fat with cardiovascular disease. Am J Clin Nutr. 2010 Mar; 91(3):535-46. DOI: 10.3945/ajcn.2009.27725. Epub 2010 Jan 13

LICHENSTEIN A.H., 2014. Dietary Trans Fatty Acids and Cardiovascular Disease Risk: Past and Present. Curr Atheroscler Rep. Nutrition, New York. Rep. 2014 Aug; 16(8):433. DOI: 10.1007/s11883-014-0433-1

FERNANDEZ, M. L..Dietary cholesterol provided by eggs and plasma lipoproteins in healthy populations. Current Opinion in Clinical Nutrition & Metabolic Care: January 2006 – Volume 9 – Issue 1 – p 8–12 Ageing: biology and nutrition

CHUN-LIN-CHEN, L. H. et al. A mechanism by which dietary trans fats cause atherosclerosis. Department of Biochemistry and Molecular Biology, Saint Louis University School of Medicine, Daisy Research Center, 2011 Jul; 22(7):649-55. DOI: 10.1016/j.jnutbio.2010.05.004

QURESHI WT, et al. American College of Cardiology/American Heart Association (ACC/AHA) Class I Guidelines for the Treatment of Cholesterol to Reduce Atherosclerotic Cardiovascular Risk: Implications for US Hispanics/Latinos Based on Findings From the Hispanic Community Health Study/Study of Latinos (HCHS/SOL).J Am Heart Assoc. 2017 May 11;6(5). pii: e005045. DOI: 10.1161/JAHA.116.005045

RAMSDEN, C.E., Re-evaluation of the traditional diet-heart hypothesis: analysis of recovered data from Minnesota Coronary Experiment (1968-73). BMJ 2016; 353 DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.i1246 (Published 12 April 2016) Cite this as: BMJ 2016; 353:i1246